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01 junho, 2018

O Conde Lucanor - 2

O Conde é uma obra narrativa da literatura espanhola medieval, escrita entre 1330 e 1335 por Don Juan Manuel, príncipe de Villena e neto do rei Fernando III de Castela. O seu título castelhano completo é "Libro de los ejemplos del conde Lucanor y de Patronio".
O livro consiste de cinco partes, a mais conhecido das quais é uma série de 51 exempla (plural de exemplum) ou histórias moralizantes tiradas de várias fontes, como Esopo e outros contos clássicos e tradicionais.
A finalidade didático-moral é a marca do livro. O conde, começa a conversa dando ciência a seu conselheiro Patrônio de um problema ( "Um homem me fez uma proposta ...") e solicitando um parecer para resolvê-lo. Patrônio sempre responde com grande humildade, garantindo não ser necessário dar conselhos a uma pessoa tão ilustre como o conde, mas oferecendo-se para contar uma história da qual se pode tirar uma lição para resolver o problema.
Cada capítulo termina mais ou menos da mesma maneira, com pequenas variações, com um dístico que condensa a moral da história.
Conto XIII - O que aconteceu a um homem que caçava perdizes
Don Juan Manuel
Trad.: Henry Alfred Bugalho
Outra vez, o Conde Lucanor conversava com Patronio, seu conselheiro, e lhe disse:
— Patronio, alguns nobres muito poderosos e outros nem tanto, às vezes, causam danos a minhas terras ou a meus vassalos, mas, quando nos encontramos, eles me pedem desculpas, dizendo-me que fizeram-no obrigados pela necessidade, muito a contragosto e sem poderem evitar. Como eu gostaria de saber o que devo fazer em tais circunstâncias, suplico-vos que me deis vossa opinião sobre este assunto.
— Senhor Conde Lucarno, disse Patronio, o que haveis me contado, e sobre o qual me pedis conselho, parece-se muito com o que ocorreu a um homem que caçava perdizes.
O conde lhe pediu que contasse a história.
— Senhor conde, disse Patronio, havia um homem que estendeu suas redes para caçar perdizes e, quando já apanhado bastantes, o caçador voltou para junto da rede onde estavam suas presas. Na medida em que as recolhia, tirava-as da rede e as matava e,enquanto fazia isto, o vento, que batia em cheio em seus olhos, o fazia chorar. Ao ver isto, uma das perdizes, que estava presa na malha, começou a dizer a suas companheiras:
— Olhem, amigas, o que acontece a este homem! Ainda que nos mate, olhem como ele se condói por nossa morte e, por isto, chora!
Mas outra perdiz que avoava por ali, mais velha e mais sábia do que a outra que havia caído na rede, respondeu-lhe:
— Amiga, dou graças a Deus porque me salvei da rede e agora peço a Ele que salves a mim e a todas minhas amigas dum homem que busca nossa morte, mesmo que dê a entender com lágrimas que muito se condói.
Vós, senhor Conde Lucanor, evitai sempre aqueles que vos causam dano, mesmo que dêem a entender que sentem muito; mas se algum vos prejudica, sem buscar vossa desonra, e se o dano não for muito grave para vós, se se trata duma pessoa à qual deveis favores, e que além disto foi forçado a isto pelas circunstâncias, eu vos aconselho que não se importeis demais, mas deveis procurar que tal não se repita tão freqüentemente que chegue a macular vosso bom nome ou vossos interesses. Mas se vos prejudica voluntariamente, rompei com ele para que vossos bens e vossa fama não se vejam lesionados ou prejudicados.
O conde viu que este era um bom conselho que Patronio lhe dava, seguiu-o e tudo ficou bem.
E vendo don Juan que o conto era bom, ordenou pô-lo neste livro e fez estes versos:
A quem te faz mal, mesmo que seja para ti pesar,
Busca sempre um modo para poder dele se afastar.

http://www.revistasamizdat.com/2008/11/o-conde-lucanor.html
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