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09 março, 2018

Tamerlão e a existência miserável

"Não temas teu último dia nem o desejes." (Marcial, X, XLVII, 13)
Os homens são tão ligados à sua existência miserável que não há condição tão dura que não aceitem para conservá-la.
Tamerlão encobria com uma tola humanidade a fantástica crueldade que exercia contra os leprosos, mandando matar tantos quantos chegavam a seu conhecimento, para (dizia) livrá-los da vida tão penosa que viviam. Pois não havia nenhum deles que não preferisse ser três vezes leproso a não existir. E Antístenes, o estoico, estando muito doente, exclamava: "Quem me livrará desses males?". E Diógenes, que fora vê-lo, ao apresentar-lhe uma faca dizendo: “Esta, se quiseres, e bem depressa", o outro replicou: "Não falo da vida, falo dos males".
In: "Os Ensaios", Michel de Montaigne
(http://listadelivros-doney.blogspot.com.br/2017/02/os-ensaios-uma-selecao-parte-ii-michel.html)




N. do E.
Tamerlão (1336 - 1405) foi o último dos grandes conquistadores nômades da Ásia Central, de origem turco-mongol. Ainda na juventude, ele sofreu uma queda de cavalo que o deixou manco. Em 1941, a exumação de seu corpo confirmou que ele era realmente portador de uma lesão de quadril.
Em benefício próprio, o cruel e autobenevolente Tamerlão não incluía os coxos do reino em sua "política higienista".

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