O último ato da vida de Molière foi em 17 de fevereiro de 1673, numa noite de inverno. Menosprezando os conselhos dos médicos, que lhe diziam para ficar em repouso e não ir ao teatro, ele foi representar o hipocondríaco Argan em sua sua famosa peça, "Le Malade Imaginaire" ("O Doente Imaginário"), em que satirizava as práticas médicas de sua época. Quando recitava os versos da peça, Molière sofreu uma catastrófica hemoptise (de provável origem tuberculosa) no palco. Em seguida, enquanto a plateia delirava em aplausos, foi tomado por uma convulsão e levado para casa, onde morreu poucas horas depois.
2
Febre, hemoptise, dispneia e suores noturnos.
A vida inteira que podia ter sido e que não foi.
Tosse, tosse, tosse.
Mandou chamar o médico:
- Diga trinta e três.
- Trinta e três... trinta e três... trinta e três...
- Respire.
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- O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão direito infiltrado.
- Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax?
- Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino.
Pneumotórax. In: Poesia Completa e Prosa, de Manuel Bandeira
3
[...]
Jeje, tua boca do lixo
escarra o sangue
de outra hemoptise
no Canal do Mangue. [...]
Nação. In: A Arte de João Bosco (disco)
Muito interessante o seu post sobre Hemoptises. Parabéns!
ResponderExcluirCompartilho trecho de um artigo do Rosemberg que fala de Molière e sua morte.
"Moliére (Jean Baptiste Poquelin) no século 17 satirizava os costumes e sobretudo os médicos, estes naturalmente porque não aliviavam os padecimentos que a tísica lhe infligia. A maior crítica sarcástica está contida em sua peça "Le malade imaginaire". A espinafração antológica está na cena na qual cinco examinadores se revezavam argüindo o formando em medicina, sobre qual o tratamento da hidropisia, da hipocondria, dor de cabeça, dor no peito, etc., etc. A resposta do doutorando é invariavelmente a mesma para todos esses diferentes males, e os examinadores em coro dão a sua aprovação. A linguagem é um misto de francês-latim grotesco. Assim para o tratamento da hidropesia a resposta é dada:
Clisterum donare / Postea seignare / En suita purgare.
Dizem os mestres examinadores:
Bene, bene, bene respondere/ Dignus est intrare / In nostro docto corpo
O exame continua, sempre com a mesma resposta para cada mal diferente, e o candidato afirma no final:
Resseignare, repurgare et reclisterizare!
A banca examinadora aprova jubiliza exigindo um juramento:
Juras gardere statuta/ Per facultatem prescripta,/ Cum sensu et julgamento
Moliére, ele próprio em cena representava o formando e ao dizer Juro! com toda a força de sua voz, tem uma hemoptise. O público cai na gargalhada imaginando tratar-se de truque cênico. Carregado para a casa o célebre dramaturgo morreu três dias, após a terceira representação da peça, vitimado pela tuberculose".
Abraço
ana margarida
Recomendo a leitura do artigo "Tuberculose - aspectos históricos, realidades, seu romantismo e transculturação", do professor José Rosemberg, publicado no Jornal de Pneumologia Sanitária, de dezembro de 1999, o qual teve um trecho citado por Ana Mragarida.
ResponderExcluirLink: http://scielo.iec.pa.gov.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-460X1999000200002
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ResponderExcluirO nome "Ana Mragarida" para "Ana Margarida".