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14 março, 2017

Alma e lençol

"A morte faz da minha alma um lençol." ~ Samih al-Qasim (1939–2014), poeta palestino


O FANTASMA SE DIVERTE


Temer não vai contar para ninguém, mas conversou com um espectro no Alvorada
Estava se encaminhando para o banheiro na ala sul, depois de tomar um chá, arrastando as pantufas no chão de madeira envernizada, quando apareceu a criatura.
— Quem é você? O que você quer?, perguntou o presidente.
— Eu sou a Democracia. O que você fez comigo, Michel?, devolveu o ectoplasma.
— Eu achei que já tinha resolvido isso, disse o presidente, esfregando as mãozinhas, nervoso.
— Vaza, Michel. Seu lugar não é aqui. Leva a patroa e o pequeno. Eu aviso: vou assombrá-lo no Jaburu, na sua mansão em São Paulo e onde mais você estiver. Você nunca mais vai ter sossego.
— Mas as instituições estão funcionando! A economia está numa onda excepcional. A cabeça do Padilha vai ser entregue. O STF está garantindo a estabilidade. A Marcela tem ido ao supermercado verificar os preços…
— Corre, desgraçado!
Michel deu no pé em direção à sua cama, já pensando na retirada.
No local onde aconteceu o encontro, Eduardo Cunha tirou o lençol de cima da cabeça, acendeu um cigarro e pensou que aquele seria um bom dia para pescar.
(extraído de: O diálogo de Temer com o fantasma do Palácio da Alvorada, por Kiko Nogueira. In: Diário do Centro do Mundo)

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