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11 setembro, 2016

O canal do Cassiquiare

Uma singularidade geológica extremamente curiosa, que o diga Herr Alexander von Humboldt (ex-aluno da Bergakedemie Freiberg): o canal natural do Cassiquiare (em lilás, no mapa ao lado), que liga o rio Negro, no Brasil, ao Orinoco, na Venezuela.
Assim, o Cassiquiare interliga duas das mais importantes bacias hidrográficas do mundo: a do Amazonas, a maior do planeta, com cerca de 6 200 000 km², e a do Orinoco, a terceira maior da América do Sul, com uma área de 948 000 km². Na sua totalidade, essas bacias perfazem uma superfície conjunta de 7 850 000 de quilômetros quadrados, correspondentes a 44 por cento do território da América do Sul.
Jaime Nogueira
Francisco de Orellana menciona que os dois grandes rios eram interligados por um grande lago, abaixo da Linha do Equador, denominado lago Manoa ou lago de Parimé.
Walter Raleigh, na sua expedição de 1596 pelo Orenoco, recolheu informações entre os nativos sobre a interligação, que atribuiu à existência de um grande lago que poderia ser ou não o próprio Rio Amazonas.
Cristóbal de Acuña, em 1639, faz a primeira descrição do canal, mas que foi desconsiderada já que tal bifurcação fluvial foi considerada improvável e anti-natural.
Manuel Román, em 1744, navega ao longo do Cassiquiare até ao rio Negro, regressando depois pela mesma via ao Orenoco.
Charles Marie de La Condamine apresentou, perante a Academia Francesa, uma descrição da viagem do padre Manuel Román, confirmando a existência do canal. Na oportunidade, a maioria dos acadêmicos europeus manifestou-se contra a existência do canal.
A Comissão de Demarcação espanhola, em 1756, comandada por José de Iturriaga, percorreu demoradamente a região, comprovando a existência do Cassiquiare.
Alexander von Humboldt, em 1800, explora detalhadamente o rio e publica, em 1812, um mapa (abaixo) detalhado da região, mostrando o curso do canal e os seus pontos de inserção nos rios Orenoco e Negro.

O canal é uma ocorrência geográfica raríssima, resultante da captura fluvial de uma bifurcação de outro curso de água, a qual faz da região do estado brasileiro do Amazonas ao nordeste dos rios Solimões e Amazonas, os estados brasileiros do Amapá e Roraima, a parte da Venezuela a leste do Orinoco e as três Guianas uma única e gigantesca ilha marítimo-fluvial.
A comunicação das duas bacias através do canal do Cassiquiare torna possível a navegação fluvial entre o Brasil e a Venezuela, no trecho São Gabriel da Cachoeira–Puerto Ayacucho, podendo-se obter, nessas localidades, respectivamente, conexão para o delta do Amazonas, em terras brasileiras, ou para o delta do Orinoco, em terras venezuelanas.
Embora não haja linhas regulares de navegação e pouca gente tenha feito esse imenso percurso, é perfeitamente possível sair do Caribe e chegar ao Oceano Atlântico através dos rios amazônicos. O percurso soma mais de 7 000 quilômetros de rios navegáveis: Orinoco, Cassiquiare, Negro e Amazonas, formando uma hidrovia natural, que, embora impondo limitações ao calado e sendo muito pouco utilizada, já está (quase) pronta.
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