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19 setembro, 2016

Anjo Malaquias

O Ogre rilhava os dentes agudos e lambia os beiços grossos, com esse exagerado ar de ferocidade que os monstros gostam de aparentar, por esporte.
Diante dele, sobre a mesa posta, o Inocentinho balava, imbele.
Chamava-se Malaquias – tão pequenino e reconchudo, pelado, a barriguinha pra baixo, na tocante posição de certos retratos da primeira infância...
O Ogre atou o guardanapo ao pescoço. Já ia o miserável devorar o Inocentinho, quando Nossa Senhora interferiu com um milagre.
Malaquias criou asas e saiu voando, voando, pelo ar atônito... saiu voando janela em fora...
Dada, porém, a urgência da operação, as asinhas brotaram-lhe apressadamente na bunda, em vez de ser um pouco mais acima, atrás dos ombros. Pois quem nasceu para mártir, nem mesmo a Mãe de Deus lhe vale!
(extraído do conto Anjo Malaquias, de Mario Quintana)
Captura de tela do curta "Anjo Malaquias", da série "20 Gaúchos que Marcaram o Século XX". RBS-RS
Mario era um poeta que gostava de brincar com as crianças. Mentia para elas, dizendo que era o Anjo Malaquias (aquele que, por falhas técnicas tinha as asinhas na bunda). E que até ia ser recebido no céu por uma banda de anjinhos uniformizados, com os sovacos suados e os sapatos apertados...

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