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04 setembro, 2015

Uma escova de dentes pode desafinar

por Paulo Gurgel
Alguém se lembra daquelas escovas de dentes dos anos 90 que tocavam uma musiquinha dentro da boca? Era uma música única que durava cerca de dois minutos, tempo considerado suficiente para uma prática de escovação. E as crianças eram o público alvo dos fabricantes das tais escovas musicais.
Como a música reverberava na cabeça, acredita-se que tenha ali começado o conceito de música-chiclete. Aquela música bobinha que fica tocando sem parar na cabeça de alguém até o dia do cometimento do suicídio.
Um destes infelizes me relatou como conseguiu se libertar do vício musical. Ele costumava cantar em harmonia com a escova até ser expulso da banda. Na ocasião, ele não ofereceu qualquer resistência para ficar. Mas sabe o que aconteceu depois? No ano seguinte, a banda ganhou um Grammy de música latina. Até hoje ele se lamenta.
Vi na internet que é possível medir a frequência de vibração de uma escova elétrica com a utilização de um afinador de violão, guitarra ou baixo. As escovas Sonicare, por exemplo, já vem afinadas de fábrica em Dó. Aparentemente, esta nota é agradável para os autistas que passam a caprichar na escovação dos dentes. Mas não há evidências científicas a respeito desta hipótese, o que me leva a divulgar a notícia "cum grano salis".
No PubMed, há um estudo científico em que quatro escovas motorizadas (Sonicare, Philips / Jordan Sensiflex HX2520 / Braun Braun 3D e D8) tiveram suas frequência oscilatórias avaliadas através de um vibrômetro de varredura a laser, e não sei qual se mostrou significativamente superior a não sei quantas em não sei o quê.
Na figura abaixo, o leitor vê uma escova vibrando em C (Dó). Esta frequência foi registrada por um afinador Snark para ukulele, cuja afinação padrão é gCEA. Violão, guitarra elétrica e baixo de quatro cordas não apresentam a corda C em sua afinação padrão, então considero explicado.


Não é piada. Minha velha escova de dentes anda vibrando em B (Si). Como não tenho ouvido absoluto nem sensor de vibração em casa, eu tive de recorrer a um método particular para chegar a tal conclusão.
Passei as cerdas da escova nos dentes durante alguns segundos. Esforçando-me para memorizar a altura da nota que estava sendo emitida e, talvez, eu nem devesse chamar aquele ruído de nota. Em seguida, sem desperdício de tempo, peguei o violão que eu deixara por perto (exatamente para evitar a repetição de certas baixarias). E, finalmente, identifiquei a nota com o auxílio do violão: B(Si)
Acredito que a minha escova tenha desafinado ao longo de sua vida útil. De tanto roçar sobre o tártaro.

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