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17 setembro, 2015

Canecas coletivas

por Fernando Gurgel Filho
Tomar água de pote tem suas manhas.
Às vezes, para manter um bom pote com água mais ou menos potável – um luxo para quem tem água de cacimba – há que economizar nas canecas.
Conta a história de um ser tão distante, em um sertão distante, que parou em uma casinha pequenina à beira da estradinha poeirenta, sol queimando o cachaço, lábios secos, parou, se encostou na porta e pediu um copo d'água.
Quem atendeu foi um barrigudinho, nariz escorrendo.
– Ô meu fio, cê me dá um pouquim d'água?
O barrigudinho pegou uma caneca, enfiou no pote e voltou com ela, todo contente. A caneca cheinha que transbordava...
Como as laterais da caneca estavam um pouco escurecidas, ele deu um arrodeio pro outro lado, onde tinha uma nesga mais limpinha, encostou os beiços e bebeu, com gosto, tudim.
– Pro mode quê o siô tomou a água assim?
– Assim como?
– No lugar onde a tia Beltronides toma?
– Me deu vontade, respondeu ele (sem querer explicar para não ofender). – Por quê?
– É que a tia tem umas feridas nos beiços e só toma aí nesse lugar.
Toin!!!

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