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06 julho, 2015

Religião para ateus

- Isso é coisa de crente! Ou, de cristão, de católico carola, de supersticiosos!...
Quem não acredita em deuses está cansado de ouvir e falar frases parecidas. Alain de Botton, filósofo e ateu convicto, no livro "Religião para ateus", nos passa uma mensagem totalmente diferente. Não, isso é coisa de seres humanos e não há nada de vergonhoso admitir e usufruir o que as religiões têm de melhor. E esse melhor, segundo o autor, não é a crença em deuses, ao contrário do que pensam os não crentes, mas a extraordinária capacidade de atender aos anseios mais humanos.
As grandes corporações, tão competentes em criar seu símbolos distintivos de marca e de satisfazer os mais profundos desejos humanos de beleza, status, alimentação e vaidades, não conseguem suprir as necessidades mais profundas - e, talvez, as mais humanas - de interação social, conforto nas horas amargas, apoio para os nossos medos, frustrações, decepções, erros, derrotas, dor profunda...
Por outro lado, as grandes instituições seculares, que atraem pela beleza e magnitude, tais como museus, teatros e, porque não dizer?, lojas de departamento, também não entenderam o que o ser humano procura nesses lugares e não conseguem dar-lhe aquele algo mais de que todo mundo necessita - pobres, ricos, remediados, reis, presidentes ou faxineiros–, seja permanentemente ou em algum período de sua vida.
As igrejas, ao incorporar, sem nenhum pudor, ritos e fórmulas dos povos antigos – que chamavam de pagãos – ainda hoje conseguem fornecer desde a grandiosidade dos templos que nos chamam a atenção para nossa insignificância dentro do universo até um espaço efetivo de convivência onde podemos abraçar um estranho sem ser repelido e onde podemos nos sentir parte integrante de uma comunidade. E ainda conseguem oferecer quase tudo que o mais forte e o mais fraco ser humano mais necessita em sua vida de inseguranças, de um ser fragilizado ante sua insignificância e seus temores.
E, surpresa, "Religião para ateus" é um livro emocionante. Deveria ser lido por todos. Sem preconceitos. Não importa que seja crente, incrédulo, agnóstico, humanista ou niilista. Temos muito a aprender com a visão lúcida do autor.

Fernando Gurgel

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