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11 maio, 2015

A que depois de morta foi rainha

É uma forma de nomear D. Inês de Castro, amante de D. Pedro, Rei de Portugal.
Dom Pedro, Príncipe de Portugal, filho do Rei Afonso IV, era casado com D. Constança, mas se apaixonara por Inês de Castro, dama de companhia de sua esposa.
Com a morte de D. Constança, Inês foi morar em Coimbra e D. Pedro, futuro Rei de Portugal, viúvo, queria selar seu amor com Inês fazendo dela sua rainha.
O Rei Afonso IV, temendo pela exclusão do filho primogênito de D. Constança na linha de sucessão do trono, tenta afastar Dom Pedro da amante e conduzi-lo a um casamento que obedecesse não aos caprichos de cupido, mas às conveniências políticas de Portugal. Para isso, vendo como única saída, o Rei manda vir Inês para que seja executada.
Os verdugos trouxeram Inês e seus filhos perante o Rei. Depois de ouvir a sentença, Inês ergueu os olhos aos céus e disse:
"Até mesmo as feras, cruéis de nascença, e as aves de rapina já demonstraram piedade com as crianças pequenas. O senhor, que tem o rosto e o coração humanos, deveria ao menos compadecer-se destas criancinhas, seus netos, já que não se comove com a morte de uma mulher fraca e sem força, condenada somente por ter entregue o coração a quem soube conquistá-lo. E se o senhor sabe espalhar a morte com fogo e ferro, vencendo a resistência dos mouros, deve saber também dar a vida, com clemência, a quem nenhum crime cometeu para perdê-la. Mas se devo ser punida, mesmo inocente, mande-me para o exílio perpétuo e mísero na gelada Cítia ou na ardente Líbia onde eu viva eternamente em lágrimas. Ponha--me entre os leões e tigres, onde só exista crueldade. E verei se neles posso achar a piedade que não achei entre corações humanos. E lá, com o amor e o pensamento naquele por quem fui condenada a morrer, criarei os seus filhos, que o senhor acaba de ver, e que serão o consolo de sua triste mãe."
Comovido com essas palavras, o Rei já pensava em absolver Inês, quando os verdugos, que defendiam a execução, sacaram de suas espadas e degolaram Inês.
Isso aconteceu em 1355 e diz a lenda que D. Pedro, inconformado, mandou vestir a noiva com roupas nupciais, sentou o cadáver no trono e fez os nobres lhe beijarem a mão. Daí se dizer de Inês: "a que depois de ser morta foi rainha".
Na verdade, D. Pedro manda transladar o corpo de Inês do mosteiro com pompas de rainha para o Mosteiro de Alcobaça em 1361, quando já era rei. Portanto, seis anos após o assassinato.

Túmulo de D. Inês de Castro em estilo gótico no Mosteiro de Alcobaça
Ao subir ao trono D. Pedro conseguiu que outro Pedro, rei de Castela, lhe entregasse os homicidas, que para lá fugiram, Dois deles tiveram o coração arrancado do peito e o terceiro escapou da vingança real por ter escapado para a França.
Para imortalizar seu amor por Inês, D. Pedro jurou, em presença de sua corte, que se havia casado clandestinamente com ela, transformando-a, dessa maneira, em rainha após a morte.
Camões, em "Os Lusíadas" (Canto III, Estância CXVIII), assim inicia o relato dessa história:
"Passada esta tão próspera vitória,
Tornando Afonso à Lusitana terra,
A se lograr da paz com tanta glória
Quanta soube ganhar na dura guerra,
O caso triste, e dino da memória,
Que do sepulcro os homens desenterra,
Aconteceu da mísera e mesquinha
Que depois de ser morta foi Rainha."

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