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16 abril, 2015

Um ícone quase por acidente

Tudo começou com uma ilustração que Rudolph Zallinger  produziu em 1965 para o livro Time-Life "Early Man" (Homem Primitivo). Em uma seção intitulada "The Road to Homo Sapiens", Zallinger mostrava uma linha de proto-macacos, símios e hominídeos (de um macaquinho meio agachado a um homem alto, de pé, quase moderno).
A ilustração integral incluía 15 indivíduos, começando pelo Pliopithecus e terminando com o Homo sapiens. Mas, quando dobrada, em uma versão simplificada, aparecia com apenas seis indivíduos. Tornou-se conhecida, a partir de uma linha do texto, como a "March of Progress" (Marcha do Progesso), e se tornou uma das imagens mais famosas da história da ilustração científica, quase tão familiar quanto à do Homem Vitruviano, de Leonardo da Vinci.

Quando a página desdobrável está fechada, esta imagem do livro Homem Primitivo,
mostra apenas seis etapas na evolução humana. Foi infinitamente parodiada.

Mas o capricho dos editores da Time-Life não funcionou tão bem para a ciência. A evolução não é necessariamente sobre o progresso, como este exemplo poderia sugerir. Em seu livro de 1989, "Wonderful Life", o paleontólogo Stephen Jay Gould escreveu que a ilustração era um "falsa iconografia".  Pois deturpava, do ponto de vista científico, como a evolução realmente acontecera. "A vida é um arbusto copiosamente ramificado, e continuamente podado pelo ceifador de extinção, não uma escada de progresso previsível" escreveu Gould.
No entanto, a "Marcha do Progresso" já havia se tornado um ícone poderoso e demasiadamente difundido para desalojá-lo da posição que até hoje ocupa no imaginário das pessoas.

Extraído de Becoming Iconic. Almost by Accident, por Richard Conniff. In: Strange Behaviors.

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