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18 janeiro, 2015

A insustentável defesa de ideias e ideais

por Fernando Gurgel Filho
Muitos não concordarão, principalmente os da carreira jurídica, mas para mim todo assassinato de um ser humano por manifestação de pensamento é por motivo fútil.
O respeito à vida do ser humano tem que ser colocado acima de qualquer ato que envolva manifestação de pensamento, defesa de ideias e ideais. Creio que, apesar de ser tão efêmera e, no geral, ser também a mais danosa ao mundo, não existe nada de mais sagrado do que a vida.
Entretanto, a cada segundo morre um ser humano por motivo nenhum ou por um motivo qualquer. Religioso, político, social, econômico, ideológico, psicológico...
Motivos fúteis. Alguns totalmente em desacordo com a causa que dizem defender. Porque, de qualquer forma, são motivos que, ao longo do tempo, podem mostrar-se sem fundamento algum.
Motivos que podem ser abandonados na primeira esquina do cemitério onde ficará para sempre registrado o seu resultado insano. Motivos que, por mais embasados que sejam, são apenas frutos de crenças ou de ideias, não de rigorosas pesquisas científicas. Quando até mesmo estas, com o surgimento de novos instrumentos e novas tecnologias, podem ser refutadas e consideradas sem fundamento. Com uma ressalva: a ciência nunca matou ninguém por causa de uma hipótese errada. Nem para defendê-la.
Ao longo da existência humana, não temos como mensurar quantas ideias que motivaram assassinatos em massa e que, logo depois, foram substituídas por ideias de novos pensadores, novos filósofos, novos profetas...
Ideias que, antes de terem sido substituídas, motivaram prisões, torturas, perseguições, assassinatos... Em suma, motivaram uma incontável lista de injustiças e de sofrimento para os seres humanos.
E, muito provavelmente, dependendo do nível de crença e das reações que provocarem, algumas das novas ideias que enterraram as antigas podem criar motivos para mais morticínios.
Por isso, não importa quão estranha seja a ideia ou crença de alguém. Se temos opinião contrária, devemos combater com outra ideia ou crença, mesmo que esta seja tão estranha quanto a que estamos combatendo. Se temos convicção, não precisamos agir com violência.
Então, não importa o motivo: todo assassinato de um ser humano por manifestação de pensamento é por motivo fútil.
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18/01/2015 - A ler
Veríssimo, genial como sempre: Blasfêmia, O Globo
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19/01/2015 - Fernando Gurgel disse...
Meu texto foi escrito depois que um colega advogado argumentou que, no caso do assassinato dos cartunistas franceses, não concordava que tenha sido por "motivos fúteis", mas que esta era uma discussão secundária. Fiquei matutando, queimando os poucos neurônios e, por mais pretensioso que possa parecer, cheguei à conclusão totalmente contrária de que foi, sim, por motivos fúteis e esta era uma discussão que deveria estar também no cerne da questão. Por isso, parti do pressuposto de que poderia estar juridicamente errado.
Aí, partindo de um outro pressuposto de que, para as religiões, todas as vidas são sagradas e que a maioria das religiões coloca o ser humano no topo da cadeia animal, podemos ser ainda mais abrangentes e dizer que todo assassinato de um ser humano é por motivo fútil. Ou seja, nenhum motivo justificaria um assassinato. Ainda mais porque, para a morte não há reparação possível.
Conclusão: por vias tortas acabei chegando à mesma conclusão genial do Veríssimo, apesar de estar anos luz abaixo do brilhante cronista.

Um comentário:

  1. Meu texto foi escrito depois que um colega advogado argumentou que, no caso do assassinato dos cartunistas franceses, não concordava que tenha sido por "motivos fúteis", mas que esta era uma discussão secundária. Fiquei matutando, queimando os poucos neurônios e, por mais pretensioso que possa parecer, cheguei à conclusão totalmente contrária de que foi, sim, por motivos fúteis e esta era uma discussão que deveria estar também no cerne da questão. Por isso, parti do pressuposto de que poderia estar juridicamente errado.
    Aí, partindo de um outro pressuposto de que, para as religiões, todas as vidas são sagradas e que a maioria das religiões coloca o ser humano no topo da cadeia animal, podemos ser ainda mais abrangentes e dizer que todo assassinato de um ser humano é por motivo fútil. Ou seja, nenhum motivo justificaria um assassinato. Ainda mais porque, para a morte não há reparação possível.

    Conclusão: por vias tortas acabei chegando à mesma conclusão genial do Veríssimo, apesar de estar anos luz abaixo do brilhante cronista.

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