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28 junho, 2014

Soneto futebolístico

por Glauco Mattoso (*)
Machismo é futebol e amor aos pés.
São machos adorando pés de macho,
e nesse mundo mágico me acho
em meio aos fãs de algum camisa dez.

Invejo os massagistas dos Pelés
nos lúdicos momentos de relaxo,
servindo-lhes de chanca e de capacho,
levando a língua ali, do chão no rés.

É lógico que um cego como eu
não pode convocar o titular
dum time brasileiro ou europeu.

Contento-me em chupar o polegar
do pé de quem ainda não venceu
sequer a mais local preliminar.

In: O Futebol na Poesia de Glauco Mattoso, Roteiros On Line
(*) A multiplicidade temática, notável nas centenas de sonetos que Glauco tem produzido após a perda da visão, converge para dois motivos fundamentais, que servem de pretexto aos assuntos mais específicos: a própria cegueira e o fetichismo do poeta em relação ao pé masculino. Inevitável, portanto, alguma alusão ao futebol, paixão da maioria dos brasileiros. O mais conhecido poema onde Glauco articula o fetiche com a cegueira e o esporte da massa é este, de 1999, que Italo Moriconi incluiu em sua antologia OS CEM MELHORES POEMAS BRASILEIROS DO SÉCULO (Rio, Objetiva, 2001)

Ler também: Rifoneiro

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