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10 junho, 2013

"Caminhante, não há caminho"

Fernando Gurgel Filho
Dizem que o inglês-brasileiro é um dialeto criado por brasileiros que se acham americanos e que não conseguem engatar duas frases mais ou menos lógicas em português. Dizem, também, que é muito comum ser ouvido em "maiame" e adjacências.
Mas, para a felicidade de todos e o bem geral da Nação, consegui superar tudo isso. Ao programar uma pequena viagem aos mais belos países europeus, passei um tempão estudando francês. Foram dias e noites estudando o idioma que, para mim, tem uma sonoridade ímpar, mas parece que nem um dialeto novo consegui emplacar. Ninguém entendia meu francês-cearense. Nem os belgas.
- Café au lait, s'il vous plaît, pedia angustiado.
- Excusez-moi, vous parlez anglais, espagnol? English, Spanish...? Español...?
Não queriam nem tentar entender o que eu tentava falar! E parece até que Portugal não faz parte da Comunidade Europeia. Um falante de português é meio raro naquelas paragens. Como a Europa está cheia de turco, japonês e chinês, não é difícil achar um falante de um destes idiomas.
Mas a minha angústia piorou bastante quando perguntaram:
- You speak German?
- Em inglês???
- Caffè latte?
- Sei não. No Brasil, só o choco... late, o café, não. Hehehehe.
- ???
- Espia só, se avexe não. Te agaranto que ôce nu Ciará ia intender tudim!
- Café au lait, s'il vous plaît.
- Café? Olé! Brasil! Ney Matogrosso!
Adoro o Ney Matogrosso, mas naquelas circunstâncias fiquei mais angustiado ainda.
E ainda bateram minha carteira em Paris.
No Brasil, nem no Pelourinho à noite, antes da revitalização, fui roubado. Nem na Praia do Futuro. Tinha que ser lá!
Meu consolo foi quando um amigo contou que um colega dele foi a "maiame", treinou arduamente o dialeto inglês-brasileiro e, lá chegando, falou apenas em português. Nem outra língua perguntaram se o pobre coitado falava. Tava na cara!

"Caminhante, não há caminho, / se faz o caminho ao andar. / Ao andar se faz o caminho..." (António Machado, poeta sevilhano)

Ilustração - Reprodução fotográfica de uma das esculturas de bronze da série LES VOYAGEURS, do artista francês Bruno Catalano. Ver mais.

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