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13 março, 2013

O Conclave

por José Lacerda, LNOL
Extra onmes! Modo ritual e solene de dizer "todo mundo pra fora!". Quem não é um dos cento e quinze cardeais aptos a votar deve abandonar a sala do conclave – a capela Sistina. Eis que o cardeal camerário (ou camareiro), conhecido também pelo nome esquisito de camerlengo, dá início ao processo de eleição do sucessor de Benedictus XVI, apelidado no Brasil por Bento 16. Afinal, Benedito 16 não combina muito com a solenidade branca de um papa. (*)
Todos entoam o Veni Creator:
Veni, creator Spiritus
mentes tuorum visita,
imple superna gratia,
quae tu creasti pectora.
Antes mesmo que o último harmônico pudesse desaparecer, o ambiente foi tomado por estrondos, e línguas como que de fogo desceram de alto a baixo. Houve quem gritasse "attacco! proteggersi!", mas logo uma voz solene quase idêntica à do Cid Moreira (sem trêmolo) põe-se a falar:
– Aquietai-vos, homens de Deus, e não vos assusteis! Invocastes meu Santo Nome, e aqui estou.
Apesar do espanto, começam a recompor-se. Alguém questiona: "estamos na Quaresma, não em Pentecostes", e outro responde: "é o tempo do Espírito, não o nosso, Eminência". O Espírito de Deus retoma a palavra.
– Venho pessoalmente comunicar-vos minha escolha para a Sé de Pedro.
– Já tendes um escolhido, ó Espírito de Deus? – indaga o camerlengo.
– Sim. E não és tu, Bertone!
– Então anunciai a todos vossa escolha, ó Pai dos Miseráveis!
– Dizei-me antes onde está o Lombardi. Chamai-o aqui.
– Não está mais aqui, ó Paráclito. Mudou-se para o Brasil, trabalhou para o Sílvio Santos e agora vive na sagrada beatitude dos mortos. Tem o outro Lombardi, que está na novela das nove.
– Então anuncio eu mesmo!
Apreensão geral. Quem será?
– Seu nome é Luiz Inácio! – brada o Espírito.
– Como? – indaga Bertone.
– Luiz Inácio da Silva. Vulgo Lula.
– O quê?!
Alvoroço. "Nenhum de nós... Como é possível? Quebrou todas as regras!". "Esse Luiz, sabe latim?" "Não sabe nem Português!".
O Espírito de Deus retumba:
– E ai de vós se não aceitardes minha escolha! Enfrentareis minha ira, que é pior que a do destemperado Ioachim Benedicto.
– Obedeceremos em tudo, ó Paráclito! – retoma Bertone. Sabeis, no entanto, que ele não é um santo homem.
– Não quero homens santos! Quero homens que luchan toda la vida. Estos son los imprecindibles.
"Bertold Brecht", grita alguém.
O Espírito se retira, deixando um rastro de fogo e um som semelhante ao dos projéteis usados pelas torcidas de futebol em estádios do altiplano.

(*) A propósito: SERÁ O BENEDITO? por Claudio Antonio Oliveira Camargo
Joseph Ratzinger, prestes a se tornar o primeiro ex-papa em quase 600 anos, escolheu o nome de Benedictus XVI quando foi eleito para chefiar a Igreja Católica em 2005. Ora, a tradução de Benedictus – que quer dizer “bendito” ou “abençoado” – é Benedetto (italiano); Benoit (francês); Benedikt (alemão); Benedicto (espanhol). Por que raios, então, que em português não seria Benedito? Bem, Benedito é a forma erudita de tradução; enquanto que “Bento”, é a forma popular, como os portugueses trouxeram para o Brasil. E na santologia (não sei se existe esse termo) católica há um São Bento (480-547), que é o fundador da ordem beneditina, origem das demais ordens monásticas. Mas há também um São Benedito (1524-1589), siciliano de origem etíope. Segundo os historiadores, quando os negros o tornaram seu santo de devoção, batizaram-no com o nome erudito para evitar confusão com o São Bento, já consagrado, mas que também poderia ter sido Benedito. Curioso é que, quando da eleição de Bento XVI, alguns telejornais saíram com a tradução “Benedito XVI”, mas ela foi rapidamente abandonada. Alguns levantaram suspeita de racismo – imagine confundir o nome adotado pelo papa, ainda mais sendo alemão, com o nome de um santo negro... Seja como for, só no Brasil – e em Portugal, por suposto – Benedito virou Bento.
(nota enviada por Fernando Gurgel Filho)

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