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07 janeiro, 2013

Arena de Iracema

Celina Côrte Pinheiro
médica, presidente da Sobrames - Ceará
A Praia de Iracema é mítica e se perenizou no imaginário daqueles que viveram seu auge nas décadas de cinquenta a setenta, com o Estoril e as lagoinhas formadas ao longo da praia, a depender da maré, motivo de diversão para pais e filhos.
Nas últimas décadas, entrou em franca decadência por várias vezes, após intervenções destinadas a revigorá-la.
Seu renascimento sempre se dá de forma atabalhoada, sem supervisão e sem o controle do poder público, no laissez-faire usual, e acaba destruída pela sanha da própria população que dela se utiliza.
Da era festiva dos barzinhos coloridos, que acabaram por espantar os moradores daquela área, despencou fragorosamente para o caos, invadida pela prostituição, drogas e congêneres... Mais uma vez agora, tenta se reerguer.
Recentemente, a área ganhou roupa nova. A população se reaproximou e, na visão do poder público, bastaria isso para o local estar revigorado. Com os pedestres que fazem a rotina saudável da beira-mar, chegaram, ao cair da tarde, também os patinadores, os esqueitistas, os ciclistas, os triciclos e quadriciclos ondulantes, feito cobras cada vez mais longas, e dirigidos, muitas vezes, por inábeis condutores.
Em uma mistura desorganizada, começa o jogo e o local, pouco a pouco, mais parece uma arena sem normas.
Os pedestres, segmento mais frágil dessa relação, encontram-se expostos a sérios acidentes.
As crianças e jovens, mesmo sobre seus patins, skates ou bicicletas, também!
O direito de ir-e-vir faz parte da democracia, contudo, respeitando-se um regramento saudável para a boa convivência.
Quem considerar que o local não oferece riscos deve estar auferindo algum tipo de vantagem ou não possui o mínimo de bom senso.
Qualquer cidadão, com sensibilidade, percebe que, ao entardecer, o calçadão se transforma pouco a pouco em um local desgovernado e perigoso, onde muitos acidentes ainda ocorrerão, sem contar aqueles não percebidos ou não revelados propositadamente com o intuito de não afastar os frequentadores.
E se faço tal advertência, é porque sei e já vi acontecer... Afinal, sou traumatologista!
(artigo publicado em 06/01/2013, em Debates e Ideias, no Diário do Nordeste)

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