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12 dezembro, 2012

Tempo, tempo, tempo...

Fernando Gurgel Filho, de Brasília
Hoje é dia 12/12/12. O que isso significa? Como diz Tutty Vasques, nada, absolutamente nada!
Mas é interessante como a humanidade perde a noção das próprias coisas que inventa. E algumas invenções se tornam realidade tão facilmente que acabam influindo decisivamente na vida de muita gente. Creio que é porque o reino dos sonhos e das magias é tão fantástico, tão maravilhoso, que é melhor deixar a razão de lado.
O tempo é uma das coisas que nos fascina e nos controla a maior parte do nosso dia a dia.
Há algum tempo escrevi: "O tempo, representado pelo ir e vir do sol e da lua, bem como pelas mudanças de humor do clima - frio, quente, seco, chuvoso,etc - sempre definiu o dia a dia da humanidade. E, com o tempo, a humanidade aprendeu a esperar o tempo certo para dormir, acordar, plantar, colher, sofrer e festejar. O raiar do dia, anunciado pelo canto do galo, avisando que o sol está chegando para homenageá-lo, e pelo alarido dos pássaros, em festa pelos bichinhos sonolentos que vão adoçar seus bicos, devem ter sido os primeiros despertadores do ser humano nos campos e florestas. Não havia mais que isso para marcar o tempo e este transcorria dia após dia. Não havia semanas, meses e anos. Depois o homem aprisionou o tempo em artefatos, como ampulhetas, relógios e calendários, e o tempo aprisionou o homem para sempre. Hoje não se concebe como um ser humano pode abdicar do tempo medido, cortado em fatias e apresentado como pedaços de bolo em festa."
E este tempo medido, invenção do ser humano, passou a se sobrepor ao próprio ser humano que o inventou. Já vi pessoas, ditas esclarecidas, vociferando temeroso contra o horário de verão, como se aquilo atentasse contra suas convicções religiosas: "Não se mexe impunemente nas coisas do Senhor!"
Dentro dessa mesma linha de raciocínio e temor, é comum vermos associações de dias, meses e anos com algum tipo de sortilégio, previsão cabalística ou outra superstição religiosa qualquer.
Ora, se fizermos uma tentativa forçada - como se faz com os dias, meses e anos do calendário - podemos encontrar interessantes combinações numéricas em qualquer coisa, até em receita de remédio para diarreia. Alguém já mostrou que qualquer livro se presta a esses malabarismos intelectuais, desde a Bíblia, passando pelo Kama Sutra, e chegando ao romance Moby Dick.
Voltemos ao tempo. A estimativa atual da ciência para a extinção do nosso planeta gira em torno de 4,5 bilhões de ano.
"QUANTO???", pergunta a velhinha de 90 anos, assustada. "4,5 BILHÕES de anos", respondemos. "Ah bom, pensei que fossem apenas 4,5 milhões", diz a velhinha visivelmente aliviada.
Essa a noção que temos do tempo. Ou seja, nenhuma, pois para o ser humano, algo além de 100 anos já ultrapassa a sua expectativa de vida, mas ainda bem que não nos damos conta disso.
Além do mais, erros em ciência são plausíveis e quando os valores são astronômicos - na plena acepção da palavra - um erro infinitesimal pode representar um valor muito grande para o ser humano.
Mas o ser humano teima em datar mudanças catastróficas, como o simples fato de o ano ser 2.000, 3.000, ou seja lá o que for, represente algo com que se preocupar, enquanto a vidinha nossa de cada dia, de no máximo 50, 60, 90 anos vai se esvaziando celeremente sem que nos preocupemos mais do que com o que não deveria ser motivo de preocupação. Preocupante isso, não?
Ora, 4,5 bilhões de ano não interessam a nenhuma religião. Melhor então jogar com alguma combinação numérica mais recente, para que os apavorados humanos corram às igrejas, templos e aos salvadores de todos os matizes.
Então, feliz fim do mundo para todos em 2012 e que, em 2013, tenhamos outros melhores fins do mundo!

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