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11 dezembro, 2012

O Terminal

Nelson José Cunha, oftalmologista e escritor
Mineiro não perde trem... mas perde avião. I did!
Dessa vez aluguei um carro para explorar a periferia de Nova Iorque, mas não contava com a multidão de imbecis que tiram o carro da garagem numa cidade onde o trem subterrâneo funciona tão bem. A estrada para o aeroporto enfartou e cheguei ao balcão da TAM cinquenta e cinco minutos antes da decolagem. Não embarquei!
Esperei 12 horas no Aeroporto JFK para poder tomar o Boing das 7:30 da manhã.
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Já vi que não adianta construir mais estradas. Enquanto os governos fazem mais pistas, a indústria faz mais carros. É claro que fazer mais carros é muito mais fácil e o resultado é o EEG ( Estado de Entupimento Geral ). A estrada para o aeroporto Kennedy tem oito pistas e todos os idiotas do mundo nelas. Me too!
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Espera tão longa dá comichão. Saí à busca de aventuras no saguão e encontrei.
Ao meu lado sentou-se um negro sem as duas mãos. Usava próteses baratas e surradas. Puxei assunto e a conversa fluiu deliciosa como água de bica. Era cidadão americano nascido na Jamaica. Sabia tudo do Brasil assim como sabia tudo de tudo. Um espanto de cultura numa criatura que parecia um mendigo e era. Não estava ali para viajar com sua mala de rodinhas – morava no terminal 4 do Aeroporto Internacional de Nova Iorque. Confessou que outros moravam ali com mala e tudo. Aproveitavam o aquecimento, as sobras de comida nas lanchonetes e a internet a oito dólares por mês oferecida pela Jet Blue. O banho quente no terceiro andar pagava-se com centavos.
Chamava-se Antony G. Bernard (foto), 66 anos, pensionista de uma seguradora privada devido ao acidente que lhe custou ambas as mãos. Presta serviços no seu laptop para passageiros em dificuldades. Os funcionários do aeroporto sabem que o despachante mora ali e só fazem uma exigência: circular sempre como a mala simulando alguém em trânsito.
No aeroporto e na vida aceita-se tudo desde que preservada a aparência.
Paulo, cheguei!
... e tenho mais duas histórias para contar.
N. do E.
A pedido de Nelson Cunha coloquei uma faixa cobrindo os olhos de Antony na fotografia para evitar que ele "sofra retaliações". Gente, para duvidar de uma venda indicada por um oftalmologista de renome, que autoridade tenho eu?

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