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21 novembro, 2012

Os costumes por trás da história

por Urbano, LN Online
Fora da pauta de hoje mas dentro da pauta de ontem
Nosso Brasil tem uma intelectualidade muito peculiar:
Hoje em dia já ninguém se lembra do dia do aniversario do Imperador Pedro II (nos 47 anos de seu reinado era a festa mais comemorada por seus súditos). Em compensação no dia em que se comemora a Proclamação da Republica, retornam os muitos saudosistas da Monarquia. Algo mudou? Em vez de comemorar o alegre natalício do Sereníssimo Imperador, o que restou foi execrar o Marechal Deodoro que o mandou passear.
Apesar de sermos todos, mais ou menos personagens machadianos, não é irrelevante alguma dose de realismo nestas horas de saudades do bom pai. (Realismo de realidade e não de rei.)
O Imperador era o pináculo de nossa nobreza. E como se formou essa nobreza em país tão sem tradições guerreiras?
Alguns a trouxeram em suas tralhas quando vieram de Portugal mas a maioria se candidatou aqui mesmo. O candidato deveria provar, entre outras coisas, que:
1- Era limpo de sangue (Os espíritos mais sensíveis não se ofendam com os termos. São os mesmos usados nos documentos da época). Isso é: tinha de provar que não descendia de judeu, mouro, negro ou de alguma outra Nação Infecta.
2 - Deveria viver segundo as leis da nobreza. Isto é: não trabalhar com as mãos.(Ser trabalhador manual ou viver do comercio era quase fatal para as pretensões dos candidatos). Andar sempre a cavalo, ter espada, contar com pagens para todos os serviços e andar trajado adequadamente eram requisitos essenciais.
O Marquês de Pombal modernizou as condições e terminou com a distinção entre cristãos velhos e novos e decretou que viver do comércio não era um impedimento tão essencial. Desde que o comerciante fosse um atacadista e não vendesse em loja a retalho (viver com vara e metro, se dizia).
Mesmo assim nosso infeliz poeta Claudio Manuel da Costa esteve em apuros para ser aprovado porque se descobriu um avô ou bisavô que vendia azeite de porta em porta e isso quase lhe foi fatal nas pretensões para um "Hábito de Cristo".
Por via das dúvidas, o paulista Pedro Taques, cuidadosamente omitiu as atividades mercantis de seus maiores e preferiu louvar as "guerras" de preação de índios dos insignes paulistas.
Entrado o seculo XIX, com a independência, algo deveria mudar e mudou, mas bem pouco, porque a tradição pesa e impõe suas regras. Assim, apesar de não existirem mais as "Ordenanças" muitos fazendeiros continuaram a ostentar seus títulos de "Capitão Mor". ( Muitas vezes obtidos por seus pais e herdados pelos filhos - sabe-se lá baseado em que lei.)
Avançando o século, alguma coisa foi mudando e, ao final do inefável reinado de Pedro (o segundo), já poucos tinham a coragem de Bernardo Pereira de Vasconcelos que declarou solenemente na Câmara de Deputados: "A África civiliza o Brasil". Em poucas palavras: a África fornecia os negros para os trabalhos duros para permitir aos senhores brancos que se dedicassem às coisas do Espirito e às Letras. ( Já naquela época, como ainda hoje, a Civilização Brasileira dependia da educação.)
O ideal a ser imitado era a nobreza inglesa com seus pajens impecáveis e louros, Mas, por aqui, os nobres tinham que se contentar com os negros no serviço, vestidos mais ou menos decentemente, já que qualquer branco, só por ser branco, se considerava com fumos de nobreza e, portanto, inapto para trabalhos manuais e pesados.
Velhos fazendeiros enriquecidos gastavam parte substancial da fortuna acumulada para terminar a vida ostentando um titulo de nobreza. Nossa famosa "nobreza de pijama".
Outra modernidade do seculo XIX era que os títulos de nobreza brasileiros não eram herdados pelos filhos mas, como a tradição tinha suas exigências, a Baronesa de São João del Rei aparecia, na procissão de endoenças, com alguns negrinhos carregando copos de prata com água fresca para matar a sede dos fiéis compungidos com a encenação do sofrimento do Cristo.
Dispensado o Imperador, por inútil, depois de consumada a Abolição da Escravatura, uma das primeiras medidas da jovem República dos Fazendeiros foi criar o STF, onde os filhos letrados poderiam seguir exercendo o seu poder de justiça e sem trabalharem muito mas muito mandando.
O STF já nasceu senil. Um agrupamento de fazendeiros assustados com a necessidade de ter que pagar salários a seus trabalhadores. Mas sempre, como ainda hoje, um bastião da tradição mandonista etc.

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