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02 setembro, 2011

UM CONTO, UM CANTO

FALAR FINO É UMA DESGRAÇA
por PAULO GURGEL
Em princípio, falar fino é um desgraça. Quando o dono da voz é homem e, por motivo profissional, muito depende dela em seu relacionamento público. O caso de Valdemar, que é um político.
De sua adolescência, guardava uma triste recordação: o bullying que sofrera. Ninguém da turma se dirigia a ele que não fizesse, por pura gozação, a voz em falsete.
Para agravar a situação, Valdemar fora batizado com o nome do protagonista do "Boi da cara preta". Uma marchinha composta por Paquito e cantada por Jackson do Pandeiro, que fez enorme sucesso em 1959 e nos anos seguintes.
Mas o que dizia a tal marchinha de carnaval? Isto:
"Coitado do Valdemar,
Tá dando o que falar,
Comeu carne de boi, falou fino
E deu pra se rebolar.
Mas que azar!"
Mas que azar mesmo! O político Valdemar, qual o xará da marchinha, era uma finura de voz. Podia fácil, fácil entrar para um coro de castrasti - sem necessidade de sofrer mutilação. Quanto a rebolar, é que não!
Ah, bem que ele tentara - inutilmente - a solução de sua deficiência vocal! Numa peregrinação que durou anos por consultórios de afamados otorrinos e fonoaudiólogos de sua cidade. Já tomara inclusive umas aulas de empostação com a Glorinha Beutenmüller, sem que, como se prognosticava, conseguisse pegar o famoso timbre "global".
E Valdemar continuou a falar fino por esse mundo afora. Num palanque, então, sua voz era um estorvo. Logo aparecia um engraçadinho para gritar:
- Fala grosso senão eu te janto!
Intervenções jocosas desse tipo vinham acontecendo cada vez mais em suas aparições públicas. Provocando zombaria na plateia e, por via de consequência, comprometendo o seu projeto político.
Foi um cabo eleitoral que resolveu o problema: "Dr. Valdemar, toda tarde coloque um copo d'água ao sol pegando o mormaço. Aí, beba que isso dá uma laringite danada, garanto que engrossa a voz. Para o caso de passar da conta, o senhor chupa umas sementes de romã."
Graças a esse macete, é que a voz de Valdemar tem ficado mais encorpada. Há momentos até em que ele se sente o próprio Estentor.
Mas... como tudo tem limites: Valdemar já sabe que nunca vai ter aquela voz de... Noriel Vilela, um dos baixos dos Cantores de Ébano.

UIRAPURU
por NILO AMARO E SEUS CANTORES DE ÉBANO

Grupo formado por Nilo Amaro (Moisés Cardoso Neves) e um coro de vozes negras femininas e masculinas (um soprano, um mezzo soprano, um contralto, dois baixos, um tenor e três barítonos), com destaque para o baixo Noriel Vilela. O conjunto fez muito sucesso na década de 1960. Seu repertório era composto de clássicos da música popular brasileira (sambas e sambas-canções) e do folclore, e de versões para o idioma português de spirituals dos negros americanos. Dicionário Cravo Albin da MPB

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