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17 junho, 2011

Quarto de empregada

Uma das obsessões da construção civil tem sido o barateamento das unidades habitacionais que constrói. Evidentemente, isso tem limites. Um apartamento cuja sala é ém "I" - e não em "L", como inicialmente se previa - acaba afastando os prováveis compradores. Um acabamento anunciado como de primeira e que não o é, idem. Experiências revolucionárias com a utilização de novos materiais como paredes feitas de papier mâché (papel amassado), então nem fala. Antes de tudo, o adquirente de um imóvel é um sujeito conservador.
E a política de minimização de custos das construtoras acaba sobrando para uma dependência: o quarto da empregada, o qual tem sempre dimensões liliputianas por maiores que sejam as do apartamento. Descrevendo um deles, Rubem Braga disse: "Um quartinho tão minúsculo onde uma pessoa não pode respirar com muita força que esgota completamente o ar." Embora, com tal nível de conscientização, não se sentisse Braga impedido de transformar o quarto de empregada no despejo do seu apartamento. Na oportunidade em que ele recebeu uns fardos pouco desejáveis e que "não podiam ficar na saleta do cronista".
Ao comprador de um apartamento Millôr Fernandes dá a seguinte orientação no item armários embutidos: "Conte o número e o tamanho dos armários embutidos. Mas conte com cuidado porque, muitas vezes, você pensa que está diante de um armário embutido e está diante do quarto de empregada." Ora, imaginam os senhores construtores que a empregada doméstica, feito aspargo em lata, dorme em pé? E que, nas paredes do quarto, assim que ela se instalar, não vai também afixar uns pôsteres de Michael Jackson, Xuxa Meneghel e Paulo Ricardo? O tipo do detalhe que deixa o compartimento ainda mais exíguo.
E o quarto em questão continua num processo de encolhimento que faz lembrar a anã branca (a qual, por uma associação de ideias, faz lembrar Adelaide, a anã paraguaia).

Prossiga a leitura da crônica em Linha do Tempo.

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