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05 maio, 2011

Nossa covardia de todo dia


Fernando Gurgel Filho

Numa hora dessas, a dor não tem limites, o pavor não acaba nunca e a indignação, a impotência, o desejo de justiça nublam todas as opiniões.
Assim, corremos o risco de simplificações, generalizações e outro monte de erros comuns nesses assuntos.
Mas ninguém pode omitir opiniões simplesmente por medo de errar. Nestes casos, creio que os fins humanitários justificam a tentativa de acertar. Mesmo errando feio.
Em primeiro lugar, vamos colocar as coisas no seu devido lugar: o assassino não era nenhum bandido; nem os policiais, heróis.
O assassino era apenas um jovem covarde, que tinha medo - ou ódio - dos seus semelhantes. Talvez tivesse suas imensas razões. Talvez a raiz de todos os seus problemas esteja na família desajustada. Talvez a origem de seus desajustes sociais esteja em algum tipo de violência que sofreu na infância.
O mais correto é que não teve qualquer tipo de amor familial, nem qualquer tipo de segurança por parte daqueles que deveriam formar cidadãos, sejam educadores, agentes sociais, comunidades religiosas ou qualquer outro agente público/privado que teriam obrigação de zelar pelas pessoas. E incluo neste rol os nossos doutos agentes de segurança, que pensam apenas em armamentos, câmeras, arame farpado, prisões... Repressão, enfim.
Nada disso, para mim, é dar segurança, nem cuidar da segurança da comunidade. Segurança, na realidade, passa primeiro pela sensação de saber-se respeitado em qualquer situação e em qualquer lugar. E onde temos essa sensação na nossa sociedade corrupta/corruptora? A única sensação que temos é de desrespeito, impotência, raiva...
Aí fica apenas a certeza de que, alguns seres humanos, apesar de conseguirem, sabe-se lá a que custo, conviver precariamente em sociedade, têm a certeza de que aquela sociedade não lhes pertence. São os excluídos em todos os sentidos.
Talvez a grande diferença, ou o que pode fazer a grande diferença, seja a falta de sentir-se gente. Talvez seja o sentir-se incluído, sentir-se parte da sociedade humana, não sofrer abusos, não sentir-se o último ser sobre a face da terra...
Talvez a diferença entre aquele que comete desatinos e o que procura catalisar suas frustrações de outra forma, seja a diferença entre o ser humano que se sente cidadão e o ser humano impotente ante o dia a dia kafkiano que a sociedade impõe aos que não fazem parte da escória que aceita qualquer coisa para subir na vida.
Uma sociedade estruturada em apadrinhamentos, proteção paga, propinas para atendimento, criação de dificuldades para venda de facilidades, onde corruptos e corruptores cospem na cabeça e afrontam aberta e livremente todo e qualquer cidadão decente, é uma sociedade que tende a parir apenas mais e mais bandidos e, dentre estes, alguns monstros. Porém, todos estes podem ser monitorados e identificados por meios repressivos. Basta querer.
Pior de tudo nessas sociedades é quando geram monstros que não são bandidos. São apenas pessoas comuns que, no desespero, têm atitudes monstruosas. E, no mais das vezes, covardes. Como a desse jovem.
Porque foi atirar justamente contra crianças e adolescentes inocentes? Porque as do sexo feminino? Se queria morrer, porque ele não procurou uma boca de fumo e saiu atirando? Porque não enfrentou bandidos?
Por covardia. Não acredito nem que ele tenha tido coragem de atirar contra os policiais que entraram na escola. Nem que ele tenha se suicidado. Era muito covarde para qualquer atitude desse tipo.
E é o tipo de covarde que vemos todos os dias, rastejando junto a amigos e pessoas influentes para conseguir facilidades em locais onde o cidadão é humilhado.
Tenho um amigo, não é nenhum deserdado da vida, que diz ficar literalmente doente quando tem que resolver algo em algum órgão público. Mas, esse mesmo amigo, apesar de relativamente influente, ao invés de usar de sua condição de cidadão para exigir mais respeito, prefere a maneira mais fácil de resolver seus problemas através da chamada "carteirada" ou contando com o "jeitinho" de alguns amigos. Quando não aceita pagar. Descaradamente.
Depois, é facílimo culpar a internet, quando antes podíamos culpar o cinema, os livros. Podemos achar culpado para tudo.
Muito mais difícil é aceitar a realidade e dizer abertamente: A CULPA É NOSSA!

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