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25 abril, 2011

Na Fossa, literalmente



por Fernando Gurgel Filho (de Brasília)

Aquele odor fétido não o abandonava. Banhava-se de perfumes, cremes por todo o corpo, até dentro do nariz. Não adiantava. Na agência bancária, onde trabalhava, quando os clientes riam, achava que era dele.
“Ia matar aquele português f.d.p..”, pensava.
“Aquele português” não era português, era angolano de pais portugueses. Estava a tanto tempo na cidade que o sotaque já sumira, mas era chamado de “português” ou “portuga”.
Era o dono de um comércio em um casarão antigo. Um misto de bar, padaria, açougue, mercearia, muito comum em cidade do interior. Pelo menos uma vez por semana, os colegas de trabalho se reuniam ali para tomar umas cervejas. O bate papo ia até tarde da noite. Quando aparecia um violão, cantavam.
O casarão tinha o banheiro do lado de fora. Depois de meia dúzia de cervejas, o usuário atravessava o alpendre na lateral da casa e, tateando no escuro, encontrava, no fim do muro, a porta do dito cujo. Era daqueles banheiros com piso de madeira, com um buraco quase no centro, que dava diretamente para a fossa embaixo.
Naquele dia o papo estava animadíssimo. Alípio pediu um tempo e foi ao banheiro. Estava escuro como breu. Não demorou, escutaram um berro cavernoso, aterrador, indescritível...
Correram todos para acudir o amigo. Com o susto, quem estava bêbado ficou bom. O “portuga“, talvez já antevendo o ocorrido, somente repetia: “Meu Deus. Meu Deus...”
O banheiro estava em reformas. Iam limpar a fossa, aproveitando a troca do piso que já estava bastante maltratado. Tinha sido arrancado durante a tarde e o “portuga” esqueceu de avisar aos clientes.
Trouxeram uma lanterna. Alípio estava literalmente nadando em merda e urina. Tentava se manter à tona. As laterais da fossa, de barro, denunciavam sua tentativa de se agarrar em algo enquanto afundava.
Além do trabalho para salvá-lo, ainda tiveram que lutar para segurá-lo: todo sujo, queria enforcar o “portuga”. Ficaram todos lambuzados, mas conseguiram arrastá-lo até uma torneira onde deram-lhe banho.
A cidade toda soube do ocorrido. A solidariedade dos colegas não amenizava a dor. Nem o odor. “Ia afogar aquele portugês f.d.p. em m*”. Era seu único objetivo, mas o “portuga”, também transtornado, morreu antes da vingança. Coração. Fulminante.
Alípio mudou-se para local ignorado. Com vergonha. Fétido.
Aquele odor não o abandonava. Nem o ódio, a insanidade, a vontade de matar o “portuga”, a camisa de força...

Bônus
NA HORA DO APERTO.

2 comentários:

  1. Dr. Paulo. Estava pesquisando sobre herpes zoster e esbarrei no teu blog. Li que pode acontecer de um paciente desenvolver herpes zoster sem erupção cutânea, mas o meu caso parece ser mais estranho. A dor (formigamento, sensibilidade, etc...) é no peito, mas a herpes apareceu no rosto, e em mais de uma ocasião. Depois que uma secou, apareceu outra, quase no mesmo lugar, entre a boa e o nariz, enfim... É normal? E se for o caso, que especialista eu devo procurar?

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  2. Caro Pedro,
    A erupção que apareceu em seu rosto (entre a boca e o nariz) pode ter sido por herpes zoster, como pode também ter sido por herpes simples (outra doença) que costuma ter o caráter recidivante.
    Dor torácica acompanhada de parestesias pode ter diversas origens. Sugiro inicialmente pesquisar uma patologia da coluna.
    Herpes zoster SEM erupção cutânea é um diagnóstico difícil e infrequente.

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