Acordou com a macaca, falando como um papagaio e jogou os cachorros em cima do marido, aquele bicho preguiça, galheiro, mais manso que uma gazela: "Olha aqui, não vou mais tolerar a jararaca da sua mãe me fazendo de burro de carga. Pavão aqui basta eu."
Em caminho de paca, tatu caminha dentro?, respondeu, cutucando a onça com vara curta. Salvou-se, pois a cascavéia não tinha um "pai dos burros" de ditados populares. Como um autêntico bode expiatório, depois de pagar o pato sem ter culpa, bebeu igual a um gambá - quase uma garrafa do melhor amigo do homem, o cachorro engarrafado - e dormiu como um gato de hotel.
Problemas não eram com ele, avestruz que preferia enfiar a cabeça em um buraco bem fundo. Mas não servia para boi de piranha, não! Se, quando o rio estava infestado, até jacaré nadava de costas, porque ele iria nadar de peito aberto? A mulher, que já fora uma garça, estava mais para orca, a baleia assassina. Ele, com aquela barbicha de bode, cabelo cor de burro quando foge, cheiro de jumento suado, bunda de tanajura e barriga maior que um elefante, há muito se tornara um touro, mas não pela força, tinha apenas a "arma do boi, desgosto do homem".
Aquela união estava naufragando. Dera o melhor de si. "A melhor espiga é sempre para o pior porco.", pensou. Mesmo morando em terra de sapos, pouco aprendera a pular. Também não era um rato, mas desejava ser o primeiro a abandonar o barco. Ficou matutando a ideia que ia e vinha a passos de tartaruga. Porém, não tinha coragem para grandes voos. Quem nasceu para codorna, não alcançava o voo livre do condor. Era macaco velho, não sabe como meteu a mão naquela cumbuca e, hoje, tinha tanta opção quanto uma raposa acuada pela matilha. Levou gato por lebre, mas ficou "agarrado que nem carrapato em costa de animal peludo". Depois ainda dizem que cabrito bom não berra. Não berra porque vai morrer mesmo. Como diz o ditado popular: "Onde o galo canta, o violeiro janta".
Aí é que a porca torceu o rabo. Enroscou-se em si mesmo, um tatu-bola amedrontado, e, "coitado do rebanho, quando os lobos querem ter razão", foi sacrificado em silêncio como um carneirinho.
Fernando Gurgel Filho
Fernando Gurgel, o autor do texto, acrescentou por e-mail as seguintes informações:
ResponderExcluir"Esse texto escrevi quando, em uma lista de discussão, não lembro mais os pormenores, uma colega disse que fazer comparações com animais era péssimo, porque dava a entender que não tínhamos nenhuma consideração para com eles. Algo assim.
Contra argumentei com esse texto, cheio de frases que citam animais e que mostra bem pouca consideração com o ser humano.
E daí?
Sei la..." FGF