"Meu pai, como você sabe, era cearense de Ubajara. Na velha vitrola valvulada lá de casa não faltavam Luiz Gonzaga e Nat King Cole. Aprendi a gostar de ambos, o que não é pouca coisa. Ainda considero o negão o maior cantor de todos os tempos. A minha infância foi vivida entre Belo Horizonte e Ouro Preto, portanto, longe das origens paternas. Durante algum tempo pensei que Luiz Gonzaga fosse meu tio porque o irmão do meu pai tinha o mesmo nome. Eu não sabia que duas pessoas podiam compartilhar o mesmo nome.
Em 1971, ano da nossa formatura, fui de Fortaleza a Campinas participar do Congresso Brasileiro de Oftalmologia.
Ao chegar a Petrolina, vi um tumulto na rodoviária ao redor de um casal de meia idade que tomava o ônibus onde eu estava. O senhor veio se sentar na fila ao lado. Risonho, bonachão, calçado com alpargatas brancas e óculos escuros para esconder um defeito, acho que era um exotropia. O homem era o Rei do Baião.
Pude observar durante o trajeto que a figura era simples e interagia sem estrelismos. Tinha a voz grave, potente, falava alto ao contar casos e nas paradas pedia sempre pastel de carne. Troquei meia dúzia de palavras com ele, generalidades. Arrependo-me hoje de não ter conversado mais. Naquela época, eu ainda era um ignorante, hoje sou também um boçal porque, às vezes, penso que deixei de ser ignorante.
O mundo mudou e vemos hoje artistas com um milésimo do seu valor, viajando de jatinhos e ganhando em um show o que Gonzaga levava anos para ganhar. Não se canta mais: rapeia-se, requebra-se, engana-se. A música de sucesso é uma lástima. Todo mundo hoje acha que é artista e o pior é que o público acredita.
Artista foi o Gonzagão que a asa branca levou, foi esse gigante aí que acabei de descrever-lhe o dedo."
O mundo mudou e vemos hoje artistas com um milésimo do seu valor, viajando de jatinhos e ganhando em um show o que Gonzaga levava anos para ganhar. Não se canta mais: rapeia-se, requebra-se, engana-se. A música de sucesso é uma lástima. Todo mundo hoje acha que é artista e o pior é que o público acredita.
Artista foi o Gonzagão que a asa branca levou, foi esse gigante aí que acabei de descrever-lhe o dedo."
Nelson Cunha
Comentário
Pelo dedo se conhece o gigante, Nelson. E você mostrou, com sua visão 20/20, que um mito pode ser uma pessoa extremamente simples. Foi uma impressão como essa que eu também tive de Patativa do Assaré, quando o conheci numa feira agropecuária no Crato.
P.S.>
O professor Arimatéa, natural de Barbalha - CE e que leciona em escolas de Santa Luzia do Oeste, Rondônia, enviou ao blog um excelente texto sobre Luiz Gonzaga. Para ler clique nos comentários (comments) desta postagem.
LUIZ GONZAGA - REI DO BAIÃO - TODAS AS HOMENAGENS
ResponderExcluirAcredito que homenagear grandes ícones da cultura é obrigação da nossa geração e de gerações futuras. Luiz Gonzaga está sendo homenageado no Brasil inteiro e uma das primeiras que vi logo cedo, domingo, foi a do Dihelson Mendonça no Blog do Crato. Deveras, fiquei impressionado pela riqueza de detalhes expostos na postagem sobre "Lua", o rei do Baião. E o interessante que não fica por aí, pois na tarde de domingo(13/12/09) acompanhei programa na Tv Brasil que também foi a fundo na biografia do cantor Luiz Gonzaga, filho da cidade de Exu e com identificação bastante forte com o Crato e o cariri.
No programa, o cantor Raimundo Fagner disse que muitos jovens iniciam na música ao aprender tocar o clássico "Asa branca". Acontecimento que lembrei que desde sempre na venda de pequenas flautas, acompanha junto com o instrumento, a citada música. Outra coisa que me encucava por que Luiz Gonzaga era chamado de Lua. O apelido vem do seu rosto arredondado que realmente parece o satélite natural do planeta terra.
Vendo também telejornais das grandes redes de televisão, pude observar as homenagens dos forrozeiros anônimos e suas sanfonas que alegram quem passa pelas ruas do nosso país, principalmente da região nordeste. Esses são os verdadeiros defensores da cultura e que faz com que se deliciamos com a genialidade de Luiz Gonzaga. E vejo o quanto está enraizada estas manifestações tão nossa, tão pertinha, tão popular. O forró de Luiz Gonzaga se confunde com outras manifestações do povo(folclore).
Luiz Gonzaga é único, um dos verdadeiros gênios da música. É contemporâneo e sempre é atual. Não confundo e não vejo relação alguma da música dele com esse "forró? eletrônico" que toca nas rádios. A relação da música do rei do Baião vemos em Fagner, Elba Ramalho, Marinês, Waldonys, Alcimar Monteiro, Alceu Valença e principalmente o mestre Dominguinhos.
A música de Luiz Gonzaga está presente em todo sanfoneiro que toca suas músicas e que forma o trio junto com o triângulo e a zabumba. Quem nunca escutou o forró de primeira tocado ao pé da serra do Araripe? Essa é a música que engrandece a nossa alma e nos remete a um orgulho de ter nascido numa terra tão rica e abençoada por Deus.
Obrigado, professor Arimatéa, pelo envio de seu comentário.
ResponderExcluirFaço referência a ele no post scriptum da postagem.
Caro Dr. Paulo Gurgel, agradeço muito ao senhor. Luiz Gonzaga me remete ao meu tempo de criança junto com meu avô que de madrugada já liga seu radinho de pilha pra escutar a verdadeira música nordestina. Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro, Dominguinho, Trio Nordestino e vários outros grandes mestres do forró.
ResponderExcluirEssa é um pequena homenagem ao Rei do Baião que publiquei no meu blog e nos blogs do Crato e de Juazeiro.
O blog do senhor é de ótima qualidade e o descobriu através do ótimo Gente de Mídia.
Tudo de bom!
Grande 2010!