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25 dezembro, 2009

Aos que roncam

À esquerda, um soneto de Raul de Leoni, que se acha em seu livro "Luz mediterrânea". À direita, uma paródia que eu fiz do soneto.

Aos que sonham

Não se pode sonhar impunemente
Um grande sonho pelo mundo afora,
Porque o veneno humano não demora
Em corrompê-lo na íntima semente.

Olhando no alto a árvore excelente
Que os frutos de ouro esplêndidos enflora
O Sonhador não vê, e até ignora
A cilada rasteira da serpente.

Queres sonhar? Defende-te em segredo
E lembra, a cada instante e a cada dia
O que sempre acontece e aconteceu:

Prometeu e o abutre no rochedo,
O Calvário do Filho de Maria
E a cicuta que Sócrates bebeu!
Aos que roncam

Não se pode roncar impunemente,
A noite toda, feito um caititu
A morgar no bem-bom. Ou julgas tu
Que cá, nesta casa, não mora gente?

Ressonando, não dás nenhuma trégua
Ao sossego daqui. Pô, Roncador!
Lembras um carro de bois gemedor
Cuja bulha tem o alcance da légua.

Queres roncar? Busca um novo endereço
Distante de ouvido cristão, ó Anta!
(Nesse afã, talvez te ajude Morfeu.)

Mas, se aqui te quedas, eu não apreço
Um reles tostão por tua garganta
Pois já te acham o próprio Asmodeu.

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