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28 agosto, 2009

Um deus dormiu lá em casa - 1

No existir monótono do ser humano, e tornado ainda mais infeliz pelos projetos não realizados, tudo seria bem mais venturoso se súbito um deus aparecesse. Eu não falo de um deus bíblico, muito poderoso, mas de um deus em carne e osso, não preocupado com a espiritualidade. Apenas capaz de transformar algum sonho em realidade, porque instrumentalizado se achasse para isso. Embora coubesse também ao eleito: abrir a porta, recebê-lo cordialmente (não se desleixando nos detalhes exigidos em cada situação) e indicar-lhe o quarto de dormir.
Eis a experiência - inesquecível - vivida pelo primeiro dos quatro eleitos que aqui deram seus testemunhos.


Beto, 23, aficionado por automóveis - "A vida toda eu quis ter um carro, mas cadê a grana para isso? Sou franco. Por diversas vezes, cheguei a pensar em puxar um, sair rodando por aí... Mas, seria uma fria, meu irmão. Chega a polícia, me engaveta e, o que é pior, daí para frente sou um cara marcado. Por isso, meu consolo era imaginar que um dia a coisa ia mudar. E como foi que mudou. No dia em que eu estava folheando a 'Quatro Rodas', me babando todo de um Comodoro 88 com opcionais. Entrou um cara meio parrudo, cabelo curtinho, em minha casa. Todo sujo de graxa, me pediu água para beber e lavar as mãos. Dei-lhe água para uma e outra coisa, e disse-lhe também que sentasse um pouco. O homem era um cegonheiro, desses sujeitos que transportam veículos das fábricas para as revendedoras. Na porta, estava lá o seu 'caminhãozinho' que não me deixava mentir. Parara por causa de prego. Como eu sempre guardo em casa uma pinga da boa, indo com o jeitão dele ofereci-lhe uma dose... no capricho. O homem ficou doido. Me disse que nunca havia provado cachaça igual. Aí, mandei ver outra, outra e outra. E ficamos amigos. Pelas tantas, sabendo da minha fissura ele me ofereceu a chave de um Monza, para que eu desse umas voltinhas. Saí no carro, né? E ele ficou em casa bebendo da 'branquinha'. E cada dia eu saía num carro diferente, que o gente boa me facilitava. Desde que não lhe faltasse a 'maldita'. Enquanto ele lá mamava, eu rodava com a minha gata. Oito dias, oito carros, até que a polícia apareceu para estragar tudo... a mando dos patrões dele. Mas não peguei cana, né? Não havia roubado nada. Pois é, deus dormiu lá em casa um... não, oito dias, mas para ver que nem ele é perfeito. Eu tinha que pagar o combustível que botava nos carros."

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