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29 maio, 2009

Nuvens

Em pequenino eu achava que os santos moravam nas nuvens. Cada santo em sua nuvem, conforme a importância. Se o santo era proeminente, a nuvem idem, de modo a traduzir o seu prestígio. Até chegar ao humílimo santo na humilíssima nuvem. Em outras palavras, esse mundo velho sem porteira, mundo cheio de desigualdades sociais, tinha o seu "repeteco" lá nos páramos, achava eu. Nos dias de hoje, chamo isso de visão antropomórfica dos seres celestiais. Ah!, mas eu punha os santos nas nuvens, conquanto não fossem elas negras!... As nuvens negras, esclareço aqui, eram só para os santos mutuários do Banco da Nublada Habitação. De santinho-do-pau-oco para baixo.
Um que destoava era São Jorge. No mister de aporrinhar o dragão, o santo inglês morava no local de trabalho. Na Lua, dindinha Lua. Desanuviado por convicção, o santo pelejador ainda mora lá. Fosse nefelibata, a sua inseparável lança teria virado um para-raios. Mas, raios! Por que santo (afora São Jorge), depois de uma existência terrena agoniada, escolhe ir morar numa nuvem a um pulo daqui? E por que, cargas d'água (ô expressãozinha apropriada!), após sofrer o diabo nas mãos dos dioclecianos da vida, santo resolve ir morar numa nuvem a um tiro de canhão daqui? Quando há os anéis de Saturno...
Eram perguntas da mente infantil jamais respondidas. E viver nas nuviosas fofuras... para santo tinha lá suas vantagens. Primeiro, não havia a monotonia da paisagem; segundo... Espere aí, a monotonia da paisagem talvez seja melhor do que esse eterna-metragem sensaborão. Da Terra para santo ver. Aliás, desde as famosas estripulias do Barão Vermelho que morar nas nuvens só apresenta desvantagens. O avião supersônico, o canhão a laser, o satélite "xeretão" e agora essa mania salobra da nucleação artificial. Eta costumezinho bobo! Como era antes: dia da faxina, a santarada em mutirão, São Pedro ao comando... "Hora de esgotar, pessoal!" E a chuva benfazeja caía sobre as plantações.
Quantas vezes eu me recostei na relva para apreciar o pleomórfico espetáculo! Sopradas pelo artífice vento, as nuvens a formarem enxundiosas figuras de... 


Ops! Termine a leitura de minha crônica 
(publicada em 1987 no DN - CULTURA) agora no Preblog.

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