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23 maio, 2008

A bomba

Isto aqui é Drummond: "A bomba / não sabe quando, onde e porque vai explodir, mas preliba o instante inefável." É, prelibar pode. Mas que nunca dêem à bomba as coordenadas da explosão, acrescento eu. Que ela continue sendo a mesma besta de sempre, sem saber quando, onde e porquê. Mas, para tanto, é preciso não bestar o bicho-homem. Nunca apertar o botão do disparo. Só músculos, a bomba é capaz de não deixar uma xicrinha sobre pires nesta loja de louças chamada Terra.
Melhor ainda é que ela vá à Lua, assovie... mas não volte. O leitor não queira assistir na Terra a um espetáculo (bomba!), que lhe pode custar muito. As meninges assadas. E não bastassem a dor, a morte, os danos materiais, a metuenda, a ferotriste é capaz de muito estrago mais. A subversão da onomatopéia, por exemplo. Os sobreviventes da catástrofe atômica ver-se-ão afligidos, no após-bomba, pela total desorganização da onomatopéia. E isto não promete ser pouca coisa, senão ouçamos:
Por afetado no maquinismo do tempo, o relógio nos acordará a desoras com um persuasivo cocoricó. E se ainda houver galos e quintais, os primeiros subirão aos alambrados dos segundos, e tilintarão anunciando o Sol. Mas que Sol, meu Deus? Se a Terra toda estará num tenebroso inverno nuclear, com as chuvas caindo por todas as partes. Sim, as chuvas caindo fazendo frufru, para a alegria das rãs que estarão zunindo nos charcos. Pobres batráquios, não vãos ignorar as terríveis serpes ribombantes, seus inimigos naturais.

Complete a leitura da crônica no Preblog.

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