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29 fevereiro, 2008

O vendedor de estrelas

Era mais um dia de tédio em Letícia, Colômbia. No restaurante do Hotel Anaconda, com o olhar pousado sobre o Rio Solimões, eu sorvia vagarosamente a quarta tulipa de suco de carambola. Contemplava o rio, seu eterno fluir na calha que a natureza lhe reservara, seu manto majestoso cor amarelo-tartaruga... De quando em vez, um boto na vadiação rompia o espelho das águas para quebrar a monotonia. Ou, então, levada de roldão pelo rio passava alguma terra caída - ilhota móvel de vegetação. Em Letícia imperava o tédio.
No cais fluvial, uns nativos tentavam meter uma robusta anta numa embarcação, a qual mais parecia uma Arca de Noé numa versão miniatural. (Mas não havia outros animais a embarcar, nem Noé.) Já bastante ferida pelos puxões imprimidos através das cordas, a anta ainda oferecia uma grande resistência. Homens e animais numa cena antológica. Depois de hora e meia de esforços inúteis, os homens deram um tempo. E entraram numa tasca onde rolavam estridentes cumbias e o estoque da "Costeña" era bom, generoso. No cais, ficou só a pobre anta inventariando os ferimentos.
Nisso, alguém me interrompeu nas divagações:
- Sr. Silva, Paulo G C ?
Bem, respondi que sim. Ao mesmo tempo em que deduzi o seguinte: ele catara o meu nome num catálogo telefônico. Em seguida, na qualidade de brasileiro cordial ainda não desnaturado pelo meio colombiano, eu lhe ofereci uma cadeira (para que sentasse, obviamente). Mas, ao fazê-lo, notei que ele sobraçava um imenso livro de capa sépia, de onde se desprendiam traças agonizantes. Percebendo também a sua intenção de abri-lo, pedi a um garçom que esvaziasse a mesa. Mas isso depois de conferir que o recém-chegado não desejava me acompanhar numa rodada de suco de carambola.
Ele, então, me passou o seu cartão de visita, no qual se lia:

Termine de ler este conto no Preblog.

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