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21 dezembro, 2007

Creme bárbaro

Sou de um país onde os carros enferrujam, as lâmpadas queimam, os relógios dão defeito e as bonecas perdem a fala. A bem da verdade, diga-se: estes incidentes também acontecem no resto do mundo; mas, com a saliência que se vê entre nós? Aqui, o usufruto de um bem qualquer chega a ser virtual. Compramos algo e rezamos para que dure um terço do que foi garantido. No atendimento das multiformes necessidades de homem, que se quer atual, o brasileiro é um desprotegido. E, como somos uns anestesiados, raro chiamos. No Brasil, nem asmático chia... quando se demora na fila da Previdência.
Neste ponto começa minha triste sina. Há oito meses, quando eu comprei uma lata de barbear Bozzano, uma marca de creme por mim nunca dantes usada. No início, dia após dia, com pequenos toques na válvula da lata eu punha a espuma na face, sem saber o que a sorte me reservara. Foi quando notei o fim de meu perturbador extrato de almíscar selvagem, que eu vinha usando à razão de uma gota/orelha/dia. Ora, se o extrato (em que pese o meu zelo econômico) se acabara, como então entender o creme de barbear que, comprado na mesma ocasião, ainda estava me oferecendo a cada vez mais generosa espuma? Só se eu estava diante de um bem de consumo anômalo, por assim dizer. Fiquei perplexo e tomado de uma ansiedade progressiva.

Continue a ler esta crônica dos anos 80 no Preblog.

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