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23 maio, 2007

Espirometria e obstrução alta

Dados clínicos
Paciente AFMM, sexo masculino, 51 anos, cabeleireiro, residente em Fortaleza, internado no Hospital de Messejana.
Tabagismo: 56 anos-maço, abstinente há 9 anos.
1ª internação: 04/08/05 => 29/08/05
Queixa principal: dispnéia há 2 meses.
Admitido com parada cardiorrespiratória na Emergência do HM.
Diagnósticos: pneumonia aspirativa + insuficiência cardíaca congestiva + hipertensão arterial + insuficiência renal crônica + hipotiroidismo + ...
Houve intubação prolongada para ventilação mecânica no período em que esteve na UTI.
2ª internação: 26/09/05 => 24/10/05
Queixas: dispnéia, tosse e estridor.
Tomografia computadorizada de alta resolução do tórax: normal.
Primeira Espirometria (05/10/05, por Dra. Inês Gurgel)


Comentário: as duas alças das curvas de fluxo-volume, antes e após o broncodilatador, se sobrepõem e apresentam um aspecto achatado – em box – o que é sugestivo da ocorrência de uma obstrução aérea alta, de natureza fixa.
Após serem conhecidas estas alterações funcionais, o paciente se submeteu a uma endoscopia que mostrou: estenose traqueal concêntrica, cicatricial, madura, 4 cm abaixo das cordas vocais. Foi realizada uma dilatação traqueal.
3ª internação: 19/11/05 => 05/12/05
Repetida a endoscopia para a realização de uma segunda dilatação traqueal.
4ª internação: 21/02/06 => 27/02/06
O paciente se submeteu a uma traqueoplastia. Acesso cirúrgico pelo 2º anel traqueal, seguido da ressecção do segmento estenosado (por Dr. Newton e equipe).
Alta hospitalar para acompanhamento ambulatorial.
Segunda Espirometria (16/11/06, por Dra. Inês Gurgel)


Comentário: as duas alças das curvas de fluxo-volume, antes e após o broncodilatador, se sobrepõem, porém não dão mais o aspecto de box ao espirograma.
Modificações quantitativas ocorridas da primeira para a segunda espirometria:
CVF (litros): de 3,48 para 4,14 (+19%)
VEF1 (litros): de 0,98 para 2,57 (+162%)
Índice de Tiffeneau: de 0,28 para 0,62 (normal = ou > 0,70)
FEF25-75%/CVF: de 0,23 para 0,52 (normal = ou > 0,60)
PFE (litros/seg): de 1,06 para 3,50 (+230%)
O distúrbio ventilatório obstrutivo passa do grau acentuado para o grau leve.

Obstruções aéreas altas - Quando suspeitar para realizar espirometria:
• História de cirurgia de cabeça e/ou pescoço
Intubação prolongada ou de repetição
• Disfonia
Estridor
Dispnéia refratária a broncodilatador
• Apnéia obstrutiva do sono
Neste caso que apresentei, em 22/05/07 (ontem), na sessão do Serviço de Pneumologia do Hospital de Messejana, estavam presentes três indicações (em negrito) para a realização das espirometrias.
Na primeira das espirometrias, o exame se mostrou importante para o diagnóstico; na segunda, após as dilatações traqueais e a traqueoplastia realizadas, o exame possibilitou avaliar, de forma objetiva, os resultados alcançados com esses tratamentos.

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